Exame de consciência
“DETESTAI O MAL, apegai-vos ao bem”, ensina São Paulo, em sua carta aos
romanos (12, 9). Desde o princípio, a Igreja tinha esta consciência da
importância do combate. A comunidade cristã deveria amar a Deus e ao
próximo – como tinha ensinado nosso Senhor Jesus Cristo -, mas, ao mesmo
tempo, e em decorrência deste amor ao sumo Bem, precisava cultivar um
profundo ódio. Pelo mal e pelo pecado. Mais: a pregação apostólica pedia
não só que o mal fosse detestado, mas também denunciado. É o que o
mesmo São Paulo indica em sua carta aos fiéis de Éfeso: “Não tomeis
parte nas obras estéreis das trevas, mas, pelo contrário, denunciai-as”
(5, 11).
Neste sentido, é urgente que façamos um exame de consciência. Será que
temos dado atenção às palavras do Apóstolo? Em nosso esforço para amar a
Deus, temos detestado o mal? Em nossa vida apostólica, temos alertado
as pessoas sobre o engano do pecado?
Se a nossa resposta para estes questionamentos for “não”, então estamos
em dívida. Receosos de desagradar o mundo, muitos de nós temos pisado no
Evangelho e zombado do Magistério da Igreja e das palavras do Papa.
Começa com um desejo de não “ferir os sentimentos” de ninguém. Os
defensores do aborto chegam e mostram sua ideologia perversa; apesar de
não assentirmos às suas ideias, vomitamos nossa covardia com um “o
aborto é uma questão de saúde pública”. Os militantes homossexuais
levantam a bandeira do casamento gay e fazem passeatas na Avenida
Paulista; calamo-nos e deixamos que defequem suas imoralidades em nossas
ruas, e quando perguntam qual a nossa opinião sobre o tema,
limitamo-nos a um “cada um faz o que quiser da sua vida”.
A princípio, detestamos o mal. Mas, sem coragem para dizer isto dos
telhados, e calados por uma mídia cada vez mais agressiva aos valores do
Evangelho, vamos perdendo até mesmo a noção de bem e mal. Aderimos,
lenta e gradativamente, a uma espécie de relativismo; e, então, passamos
a integrar a grande massa religiosa que se diz católica, mas não vive
sua fé; que se diz praticante, mas se restringe às Missas dominicais e a
algumas novenas em tempos de dificuldade.
Muitos de nós andamos inertes, mas o nosso inimigo não dorme.
Então, está na hora de acordar… O Cristianismo é a religião da paz, não
do pacifismo. Se queremos a nossa salvação, e que “venha a nós o Reino
de Deus”, como pedimos na oração do Pai-Nosso, é preciso que ajamos com
violência, que lutemos contra os nossos pecados e “contra os
principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os
espíritos malignos espalhados pelo espaço” (Ef 6, 12). Não nos enganemos
– é o próprio Cristo quem nos alerta: “o Reino dos céus é arrebatado à
força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12).
“Uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história da
humanidade. (…) Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para
aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão com
grandes labutas e o auxílio da graça de Deus” (Gaudium et Spes,
37). Este Ano da Fé é ocasião bastante propícia para que façamos
renascer em nós a chama da fé e o espírito de obediência ao Sumo
Pontífice; além de pedir a Deus a coragem e a valentia de soldados. O
mal existe; sua ação no mundo é visível. Se queremos realmente vencer
com Cristo, devemos entregar-nos ao máximo… e vencer o nosso respeito
humano.
Artigo publicado originalmente na coluna “Missão de cristão”, revista A Voz da Rainha, 1ª edição.
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