E
assim como na natureza cada organismo exige uma alimentação diversa,
segundo a idade, os trabalhos e o gasto das forças, assim também cada
alma precisa de uma particular dose de oração.
Notais
que a vida divina [isto é, a vida da graça] não se sustenta de virtude,
mas de oração, já que a virtude é um sacrifício, um gasto, e não um
alimento.
Quem
sabe orar de acordo com as suas necessidades, tem a sua lei de vida.
Não é a mesma para todos. Uns precisarão de um grau maior de oração para
se manter no estado de graça; outros de um grau menor. Esta afirmação
não pode ser posta em dúvida, pois a experiência no-la prova. Uma alma
se conservará em estado de graça com pouca oração – basta-lhe esse pouco
– mas não há de voar muito alto, enquanto outra, pelo contrário,
dificilmente nele se manterá sem muita oração. Sente necessidade de
mais. Que ore, e ore sempre! Assemelha-se a essas naturezas fracas, que
precisam comer com freqüência para não definhar.
A
oração é o caráter da religião católica, a marca de santidade da alma,
sua própria santidade. Ao verdes alguém que vive de oração podereis
dizer: "É um santo". (...) Jamais, porém, se tornará santo o homem que
não ora.
Não
vos deixeis levar nem pelas palavras, embora belas, nem pelas
aparências. O demônio tem muito poder, é douto, transforma-se em anjo de
luz. A ciência, tampouco, forma santos; não vos fieis nela. Só o
conhecimento da verdade não pode santificar, é preciso acrescentar-lhe o
amor. Que digo? Há um abismo entre o conhecimento da verdade e a
santidade. Quantos gênios não se têm perdido!
Insisto.
Nem as boas obras de zelo e de caridade podem, por si, santificar. Deus
não imprimiu à santidade este caráter. Os fariseus – e no entanto Nosso
Senhor os chama de sepulcros caiados – observavam a Lei, davam esmolas,
consagravam os dízimos a Deus. Trabalhavam muito sem que, no entanto,
seu trabalho se mudasse em oração. O Evangelho no-lo confirma. É que a
prudência, a temperança, a dedicação se podem aliar a uma consciência
viciada.
A
oração não é, [por assim dizer,] na ordem divina, senão a mesma graça.
Já notaste que as tentações, as mais violentas, são contra a oração?
Esta inspira tanto medo ao demônio que, de bom grado, ele nos deixaria
fazer todas as [boas] obras imagináveis, se pudesse nos impedir de orar,
ou, pelo menos, se conseguir viciar a nossa oração. Devemos, pois,
estar de sobreaviso, alimentar sempre o espírito de oração, fazer da
oração nosso dever primordial.
O
Evangelho não nos manda antepor a salvação do próximo à nossa própria
salvação, pelo contrário, diz-nos que nada vale ao homem ganhar o mundo
inteiro se vier a perder sua própria alma. A primeira lei imposta –
infelizmente violada todos os dias – é a da salvação própria.
Descuidamo-nos de bom grado de nós mesmos para servir aos outros,
entregando-nos a obras de caridade. De fato, a caridade é fácil e cheia
de consolações, eleva-nos, enobrece-nos, mas enquanto isso, fugimos da
oração por indolência. Por ser sem ruído e silenciosa, é humilhante, e
não ousamos, portanto, nos entregar a ela.
(...) Nada se faz de grande para Jesus sem a oração, que nos reveste de Suas virtudes.
Se não rezardes, nem os Santos, nem o próprio Deus vos farão progredir no caminho da perfeição.
A
oração está de tal forma ligada à santidade que, Deus, ao querer elevar
a alma, não intensifica suas virtudes, mas sim, seu espírito de oração,
isto é, a sua capacidade de poder orar.
Aproxima-a de Si, e nisto está o segredo da santidade.
Consultai
vossa experiência própria. Sempre que a voz de Deus se fez ouvir,
haveis procurado com maior insistência a oração e o retiro. E os Santos,
cientes da importância da oração, amavam-na mais que a tudo e
suspiravam continuamente pela hora em que a ela se poderiam entregar.
Sentiam-se atraídos a ela como o ferro ao ímã. A oração foi-lhes,
portanto, a recompensa: no Céu oram continuamente.
Se
não rezardes, perder-vos-ei. E se fordes abandonado por Deus, podeis
atribuir isto, com toda certeza, ao fato de não rezardes. Sois qual o
desgraçado náufrago que recusa a corda que lhe lançam com intuito de
arrancá-lo à morte. Que fazer? Está perdido!
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