"Quão
estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. Poucos são
os que o encontram. Devemos observar bem a ênfase dada à partícula
'quão', pois é como se dissesse 'na verdade é muito estreita, mais do
que podeis imaginar...' Essa via ao alto monte da perfeição, exige
viajantes que não levem fardos que os façam pender para baixo... Já que
se tem o propósito de somente buscar e alcançar a Deus, somente a ele se
há de buscar e alcançar de fato! Instruindo-nos e incitando-nos nesse
caminho, Jesus Cristo proferiu essa doutrina tão admirável e, receio
dizer, tanto menos praticada pelas amas (que se sentem atraídas à vida
espiritual) quanto mais necessária!
'Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o
que perder a sua vida por causa de mim e do evangelho, irá salvá-la'.
Oh!
Quem poderia aqui agora dar a entender, praticar e saborear este
conselho!... aniquilação de toda a suavidade em Deus... aridez...
tédio... sofrimentos... eis a pura cruz espiritual e a nudez do espírito
pobre, segundo Jesus. O verdadeiro espírito antes procura em Deus a
amargura que as delícias, prefere o sofrimento ao consolo, a privação ao
gozo, a aridez e as aflições às doces comunicações celestes, sabendo
que isto é seguir a Cristo e renunciar-se. Agir de outro modo é
buscar-se a si mesmo em Deus, o que é muito contrário ao amor. Buscar a
Deus nele mesmo... é inclinar-se a escolher, por amor a Cristo, tudo
quanto há de mais áspero, seja de Deus, seja do mundo". A renúncia,
segundo a vontade divina, consiste em "morrer para sua natureza...
aniquilando-a... em tudo quanto a vontade julga ser valioso na ordem
temporal, natural e espiritual... Quem assim tomar a cruz sobre si
experimentará o jugo suave e o fardo leve, encontrando em todas as
coisas grande alívio e suavidade... Quando a alma ficar desfeita em nada
- isto é, a suprema humildade - estará realizada a união espiritual
entre a alma e Deus... união que consiste numa viva morte de cruz,
sensitiva e espiritual, interior e exterior".
S. João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo, Livro II.
Para
tanto não há outro caminho, pois, segundo o plano divino da salvação,
Cristo houve por "remir a alma e desposá-la consigo, servindo-se dos
próprios meios que haviam causado a ruína e a corrupção da natureza
humana; pois, assim como por meio da árvore proibida no paraíso, foi
essa natureza estragada e perdida por Adão, assim na árvore da cruz foi
remida e reparada." (S. João da Cruz, Cântico Espiritual, Explicação da
Canção XXIII) Se quiser partilhar com ele da vida, com ele deverá passar
pela morte de cruz, e deverá como Cristo crucificar a sua própria
natureza por uma vida de mortificação e renúncia, entregando-se à
crucifixão pelos sofrimentos e pela morte, conforme Deus determinar e
permitir. Quanto mais perfeita for a crucifixão ativa e passiva, tanto
mais íntima será a união com o crucificado, e tanto maior será a
participação na vida divina."
Edith Stein, A Ciência da Cruz, Cap. I.
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