Nada mais suave para os
ouvidos de Maria do que a voz de seus filhos, dirigindo-lhe a saudação
angélica. Esta saudação faz estremecer-lhe o coração, como no dia da
Anunciação. O fato seguinte o prova com evidência, e se deu com São
Bernardo, um dos mais ilustres servos de Maria.
No meio do século XII,
existia nas florestas que separam as Flandres do Brabante uma ermida de
religiosos beneditinos, célebre sob o nome de abadia de Afligem.
Bernardo, percorrendo a Alemanha para pregar a segunda Cruzada, foi
descansar alguns dias no piedoso convento. Uma estátua de Maria estava
no fundo do claustro, na grande galeria. Com o divino filho nos braços,
Maria parecia olhar com ternura para os religiosos que ali passavam.
Bernardo dirigia-lhe a saudação angélica todas as vezes que passava
diante dela:
— Ave, Maria! — dizia ele.
Um dia, ajoelhou-se aos
pés da imagem, repetindo com efusão sua saudação favorita. No momento em
que acabava de dizer “Ave, Maria!”, da imagem Maria respondeu:
— Ave, Bernardo! — Eu te saúdo, ó Bernardo!
É impossível descrever a
impressão que estas palavras produziram nos circunstantes, e em
particular na alma de Bernardo. Estremeceu, como Santa Isabel no dia da
Visitação, quando Maria a saudou: “E donde me vem esta felicidade —
exclamou Isabel — que a mãe de meu Senhor se digne visitar-me?” (São
Lucas 1, 43). Sem dúvida, a alma de Bernardo, ouvindo a voz de sua Mãe
bem amada, derreteu-se de amor como a da esposa dos cânticos: “Minha
alma desfez-se em ternura ao som maravilhoso de sua voz”.
Ao retirar-se, o santo
abade de Claraval deixou na abadia a parte superior de seu báculo, como
penhor de agradecimento. A estátua conservou-se milagrosamente no
claustro até o ano de 1580, época em que foi despedaçada, e o convento
saqueado pelos protestantes. Dos pedaços recolhidos, fizeram-se duas
novas estatuazinhas à imitação da antiga. Uma delas venera-se ainda, na
igreja dos beneditinos de Termonde.
(“Maria ensinada à mocidade” - Livraria Francisco Alves, 1915).
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